Vida
a vida veio para muita coisa, mas não para as mesmas visões limitadas
como um ser mutável sua tarefa será sempre de se abrir a perspectivas novas porque o que se chama de tempo não é outra coisa se não as lambidas do desejo de transformação
te perguntando o que é que resta e o que é que tu oferece
O nome que te deram é apenas um ponto
Agradece aos modos-de-ver que vieram com ele
Mas nem de longe te acomoda aí
Porque outras forças também te nomearam
e desde o teu nascimento chamam por ti
Reconhece tuas verdadeiras irmãs, irmãos, mães e pais
nas águas, nos fogos, nas terras, nos ventos, nas luzes que te clareiam com teus sentidos
festeja, com dança própria, essa tua passagem breve
teus convivas estão todas/todos aí – respirando junto contigo em corpos que se acham jovens ou corpos que se acham velhos
Pois presenteia cada um/a com uma parte do banquete, oferece-lhes, de acordo com o seu desejo, uma parte do sonho que te imaginas ser
E quando estiverem satisfeitos, te apresentas por inteiro, como apenas um som possível que diz:
Não é preciso se acostumar a sofrer
Não é preciso se acostumar às mesmas visões
É preciso se oferecer
E tomar a vida com a humildade de uma aprendiz
que obedece a um só senhora:
- a própria criatividade viva, pulsante
Quando escutarem tua canção
festejarão também, com dança própria,
suas breves passagens
Não se perguntarão mais se são jovens ou velhos
porque saberão que são nascidos do amor
Respirarão junto contigo
e imaginarão coisas impossíveis
mas necessárias
E os assuntos que irão lhes agradar são sempre aqueles
assuntos que agradam ao amor
e o que mais importará nas suas vidas será não pedir, mas oferecer amor no mundo
porque quando morrerem
irão se ver como fontes, como florestas, como rochedos, como céus limpos
e, assim, irão curar os sonhos devastados
se entranharão de volta à terra e
fertilizarão novas formas de ver
(ao longe, poderá se ver as bençãos, como cavalos, chegando no mundo)
João Vale –